segunda-feira, 17 de maio de 2010

Anne

Segunda parte do primeiro capítulo de Anne.

Dica: Caso ainda não tenham lido a primeira parte, ou não lembrarem direito, embaixo de cada post há uma tag com o nome do livro, clicando nela, todas as partes já postadas ficam juntas, para facilitar a leitura e o acompanhamento dos livros.


Aproveitem e boa leitura!


Não era a primeira briga da última semana. E nem a primeira dos amigos com quem brigara pelo mesmo motivo. Já ia fazer dez dias desde que o misterioso livro aparecera em seu quarto de forma mais misteriosa ainda. Todos os amigos tinham a mesma opinião de que era uma brincadeira de alguém e que ela não deveria dar atenção, uns por desdém, outros por medo, mas ela não conseguia pensar que não havia um motivo maior por trás disso.
Ao sinal, guardou seus livros no armário e foi para lanchonete onde trabalhava. Trabalhava apenas quatro horas, mas já era o suficiente para deixá-la bem cansada ao chegar em casa. Jantou, passou o tempo habitual com a família e depois subiu para o quarto. Era sexta-feira, mas como havia se desentendido com a maioria de seus amigos, não tinha para onde ir.
Estava bastante cansada por isso decidiu tomar um bom banho morno e dormir. Depois de tomar o banho, fechou a porta e deitou-se. O primeiro impulso era de pegar o livro da caixa onde estava guardado, sob a cama, mas dessa vez algo a impediu. Deu-se conta que se afastara dos amigos desde o aparecimento do livro e que não fazia mais nada a não ser reproduzir seus desenhos e tentar achar tradução para a linguagem na qual estava escrito:
- Estou ficando obcecada por isso.
Empurrou novamente a caixa para baixo da cama e nem tinha percebido que a havia tirado de lá. Deitou, cobriu-se e apagou a luz do abajur.
- Talvez eles estejam certos e não passe de uma brincadeira. Vou pedir desculpas amanhã.
Dormiu.
...

O céu estava negro. Uma forte chuva caía fora do imponente castelo. Em seu interior, duas estranhas figuras, fechadas em uma espécie de laboratório subterrâneo, acertavam detalhes:
- Você está certo de que isso funcionará?
- Certamente, Milorde. Os livros antigos descrevem esse procedimento como o único viável para seus propósitos.
O homem mais alto tinha longos cabelos negros adornados com alguns aros de ouro espalhados aleatoriamente, um tapa-olho que cobria uma cicatriz no olho esquerdo e por suas vestes deveria ser o soberano do castelo. Já o mais baixo aparentava ser também o mais velho devido a seus curtos e desgrenhados cabelos prata. Seus olhos azuis pareciam querer acompanhar todos os acontecimentos à volta, pois não se fixavam em ponto algum, ficavam indo de um lado para outro constantemente. Usava vestes negras, porém bastante extravagantes com vários detalhes prateados, esmeralda e dourados. Este último preparava um leito:
- Milorde, estamos prontos!
- Vou buscá-lo.
O homem mais jovem saiu por alguns momentos do recinto. Anne aproveitou para olhar bem ao redor. Desta vez tinha ido além dos fatos das ultimas “viagens”. Já sabia que se tratava de um sonho e por isso não podiam vê-la. Ao olhar para a única janela do lugar, pode vislumbrar de relance uma figura espiando. Antes que pudesse ir descobrir quem era, o soberano voltou.
Anne ficou em dúvida, mas preferiu acompanhar os fatos no interior do laboratório:
- Coloque-o aqui, Senhor! Tire sua túnica e deite no outro leito para começarmos.
O homem de cabelos negros obedeceu. Enquanto o velho arrumava alguns frascos e uma estranha adaga de lâmina vermelha, Anne aproximou-se da cama onde haviam depositado um pequeno embrulho que se movia um pouco. Ao olhar de perto tomou um susto que a fez cair ao solo. Era um bebê. Um forte impulso de salvá-lo mesmo sem saber o que estavam prestes a fazer surgiu em seu coração, deixando-a aflita. Era um sonho e ela nada podia fazer:
- Este é o momento de desistir, Se...
Antes que pudesse terminar, o homem foi agarrado pelo pescoço e levantado a alguns centímetros do chão:
- Não sou do tipo que desiste. Prossiga, ou não será mais necessário!
Ao ser solto o velho começou a pronunciar uma espécie de oração em uma língua esquisita, enquanto balançava dois frascos com líquidos brilhantes sobre a cabeça. Terminou com um silvo agudo e lançando os frascos no chão. Um brilho ofuscante começou a iluminar o lugar e a última imagem que Anne pode ver foi o que pareceu o velho apunhalando o peito do soberano.
Anne foi transportada para o lado de fora, exatamente do lado da figura que espiava. Pôde ouvi-la soltar um gemino de espanto e lançar vôo em direção da floresta que cercava o lugar. Antes de ser novamente transportada, viu um vulto gigantesco e negro abrir um grande buraco na parede e lançar-se atrás da estranha. Anne agora estava numa clareira da floresta. Chegou lá segundos antes de uma bela fada púrpura pousar e esconder-se atrás de um dos grandes carvalhos. A fada arfava muito, o que fez com que deduzisse que era ela que estava espiando na janela e agora fugia de alguém.
A criatura tinha a pele lisa e de um suave tom de violeta. Seu cabelo era verde claro como os olhos. As duas grandes asas coloridas lembravam as de uma borboleta. Tinha a mesma altura da garota e não parava de olhar para trás, em busca de seu perseguidor.
Depois de descansar um pouco, pegou um livro que estava amarrado em sua cintura e, com um dos gravetos do chão, começou a desenhar um círculo na terra mais fofa. Depois de desenhar inúmeros símbolos e detalhes a fada retirou uma espécie de embrulho, que Anne sequer havia reparado, de suas costas e o depositou no centro do círculo. Recitou algumas palavras que pareciam ser no mesmo dialeto usado pelo venho anteriormente, até o círculo começar a emitir um belo brilho colorido:
- Viva minha filha, pois você é nossa única esperança agora!
Uma lágrima correu o rosto da fada. A criança sumiu e, segundos depois o grotesco vulto negro desceu dos céus em direção a ela. Antes de chegar perto o suficiente para que a menina conseguisse ver o que ele era o sonho começou a fugir-lhe.

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