sábado, 19 de junho de 2010

Anne

Aproveitem, e boa leitura! Próxima postagem em 25 de junho de 2010.


Capítulo Dois



Manhã de segunda-feira. Embora tivesse seguido as instruções de sua mãe e copiado o círculo de mensagem com precisão, pois sempre fora habilidosa com desenhos, suas perguntas ainda não haviam sido respondidas. Passara o domingo todo dormindo, pois tiveram uma longa madrugada junto com July.
Ainda não tinham se visto desde então e estava com medo da reação que sua amiga poderia ter agora que sabia de seu segredo. Ao chegar a escola, pode avista-la em frente à porta de entrada para o saguão. No momento em que lhe avistou a amiga correu em sua direção:
- Anne! Que bom vê-la. Eu tenho algo para lhe contar.
Anne ainda estava um pouco atordoada. Sabia que a amizade não seria mais a mesma, mas não esperava por esta atitude da amiga; talvez só tivesse sido pessimista de mais. Antes de qualquer outra coisa, abraçou-a com tal força, que ela acabou derrubando os livros. July entendeu e retribuiu o abraço com um sorriso.
- Obrigado July! É importante para mim.
- Eu sei. Por isso cheguei à escola mais cedo e fui à biblioteca.
- O que foi fazer na biblioteca?
- Procurar uma forma de te ajudar. Encontrei uma sessão de dicionários de língua antiga. Acho que com um pouco de estudo vou começar a aprender ler aquele livro. Encontrei outro livro estranho. Ele parece muito velho e possui alguns símbolos como o seu, mas não foi por isso que me pareceu estranho.
- Então?
- Ele não é catalogado na biblioteca.
- O que isso quer dizer?
- Talvez ele também seja do mundo de sua mãe.
Seus pensamentos começaram a flutuar, mas logo foram trazidos de volta ao chão pelos cochichos que começaram a tomar o salão. Todos olhavam para porta onde entrava um estranho garoto vestindo uma túnica vermelha, que mais parecia uma veste cerimonial de alguma sociedade secreta antiga.
Embora fosse o centro das atenções, avançava pelo corredor olhando para um ponto fixo sem dar a mínima atenção para os cochichos e risadinhas sobre sua pessoa. Só mudou o foco de sua atenção ao passar em frente às duas meninas, onde parou para lançar um longo olhar em Anne. No momento em que os pares de olhos se encontraram o mundo ao redor pareceu sumir. Anne sentia-se como em um mundo vazio onde eram os únicos habitantes.
Só voltou a si quando o garoto deu um breve sorriso e voltou novamente seu olhar e andar para o fim do corredor. Como por magnetismo, seus olhos ainda acompanharam-no até que sumisse no corredor que ia na direção da sala do diretor. Ali ficou perdido por alguns momentos até que percebesse o chamado da amiga.
- Anne! ANNE!
Balançou a cabeça e olhou para July:
- Pode me explicar o que acabou de acontecer aqui?
- Desculpe, eu não sei ao certo. Mas aquele garoto há algo de estranho nele.
- Além das roupas?
- Sim. É como se algo nele me fosse familiar.
- Eu acho que você só o achou bonito.
Anne corou. July deu um grande sorriso para a amiga e pegou-a pelo braço para que seguissem para sala de aula. As aulas da manhã passaram quase despercebidas pela garota. Como se não bastasse a ansiedade por resposta e a preocupação pela forma como Vanora havia se despedido, o olhar do garoto novo não saia de sua mente.
Na hora do almoço, como já haviam combinado, as duas comeram o mais rápido que puderam para que desse tempo de ir a biblioteca. A sessão onde o livro se encontrava era bem ao fundo e era restrita aos professores. July tinha conseguido se esconder lá por poucos minutos em uma distração da bibliotecária. Por isso tinham um plano. Ela distrairia à senhora mal-humorada, enquanto sorrateiramente, Anne se infiltraria na tal sessão e pegaria o livro. Já que não estava cadastrado, certamente não sentiriam sua falta.
Quando a amiga começou a enrolar a bibliotecária, esgueirou-se para trás da estante reservada. Começou a vasculhá-la com os olhos em busca do tal livro. Tinha que ser rápida, mas não tinha idéia de como poderia ser seu alvo. Não pode contar com uma descrição de July, pois a garota estava tão nervosa que havia se esquecido disso.
Ao tirar um livro mais grosso da prateleira, para examiná-lo, deparou-se com um par de olhos verdes fitando-a. Com o susto, derrubou o pesado livro no chão. O garoto saiu então do outro lado da prateleira com um livro vermelho e dourado nas mãos.

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